27 de agosto de 2017

Caravana de Artesania em Carbonita (bairro dos Leites) - agosto


Em agosto, a Caravana de Artesania retornou no bairro dos Leites com oficina, apresentações e encontros realizados no Centro de Convivência do bairro, em parceria com as Secretarias de Assistência Social e de Cultura da Prefeitura Municipal.



A equipe de artistas-orientadores foi formada por: Paulo de Morais, Ronildo Prudente e Elisa de Souza (artistas integrantes da Associação Viraminas de Três Corações); Heloisa Dirce (arte terapeuta de Sabará); Dimir Viana (músico e diretor teatral de BH); e Cristiano Pena (coordenador do projeto e integrante da Associação Pano de Roda de BH). 

Acompanhe o passo-a-passo desta programação.

No dia 7/08, houve uma reunião com a Secretária de Cultura Helena, participantes e produção local no Centro Cultural Prof.a Helena Leite.



Nos dias 8, 9, 10, 14 e 15 aconteceu a Oficina Montagem, onde os participantes puderam criar e apresentar cenas. As atividades tiveram o foco na cultura da oralidade, na valorização dos mestres, no resgate da cultura popular.


No dia dia 8, a oficina começou com expressão corporal e jogos teatrais focando no equilíbrio corporal, ritmo e atenção.







Brincadeira musical Bate Monjolo

"Bate Monjolo no pilão
Pega mandioca pra fazer farinha
one foi parar meu tostão
ele foi para a vizinha"

Sugestão de como brincar: 
Todos em roda sentados, colocam as mãos sobrepostas, sendo a palma direita por cima e a palma esquerda por baixo. Unindo os dedos da palma direita e virando-os pra baixo,forma-se o pilão que vai bater na palma do colega e depois mudar de lado batendo na própria palma esquerda. Este movimento é feito no ritmo da música, cantada por todos. Quando todos aprenderam o movimento e a letra, uma pessoa coloca uma moeda no pilão, que vai sendo passada pros demais colegas na batida do pilão. 
Variação 1:ao final da música (cantada 2 vezes) quem fica com a moeda tem que contar uma lembrança que marcou a vida de alguma maneira. 
Variação 2: uma pessoa fica no meio tentando adivinhar com quem ficou a moeda ao final da música. 

Nota: 
Monjolo é uma máquina rústica de madeira, movida a água e usada para descascar e triturar grãos secos, como o milho, arroz e café. Foi introduzida no Brasil pelos portugueses durante o período colonial. 
O pilão é um utensílio culinário normalmente feito de um tronco escavado. De tamanho menor, é essencial na cozinha africana para moer alimentos, sendo oferecido aos noivos no dia seguinte ao casamento, numa cerimônia chamada xiguiane (Sul de Moçambique).

E a oficina terminou com relaxamento e roda de conversa sobre a proposta da oficina.



O dia 9 começou com alongamentos, exercícios de prontidão e integração grupal. 




No aquecimento vocal, foram trabalhadas as noções de grave e agudo. 
Depois, as noções espaciais dos planos baixo, médio e alto



Dimir coordenou então  o jogo de construir uma história, a partir da oralidade. 


Nesta dinâmica, foi trabalhada a memória e a construção de histórias.  A turma foi dividida em 4 grupos de três participantes. Cada integrante contou uma história que conheceu por meio de um parente ou um amigo - uma narrativa pequena, de preferência. 







Diante da turma inteira, cada pessoa recontou a história de um colega e não a sua própria história.



 


No final, os participantes conheceram a música "Sem lero lero" de autoria de Dimir Viana.

Laro laro liro lerê
Laro laro liro
Lero lero


Visto que Chapeuzinho Amarelo
Tinha de modo sincero
Medo do que sei o que
Medo de um lobo bobo
Que acabou virando bolo
E viraria bambolê olê-olê


Laro laro liro lerê
Laro laro liro
Lero lero


Pela estrada a fora
Vai que nem bolero
Destemida, Chapeuzinho Amarelo
Sem medo de lobo, vai que nem bolero
Pela estrada afora

Vai sem lero lero
Laro laro liro lerê
Laro laro liro
Lero lero  

No dia 10, a oficina começou com aquecimento vocal e corporal, retomando as noções espaciais de planos. 


Em seguida, jogos teatrais e brincadeiras, como o zip-zap-blong-toim e mosquito africano.


Ao final, Dimir Viana contou a historia folclórica do "João Jiló”, um menino travesso que gostava de matar passarinho com seu estilingue.



Ficou com vontade de saber como é a história do João Jiló? 
Veja aqui o texto e aqui um vídeo.


No dia 11, o Espetáculo “Ciranda e Prosa” foi apresentado à noite no Centro Cultural Professora Helena Leite, com os artistas-orientadores e participantes da oficina.

Primeiro, foi feito um ensaio para elaborar o roteiro geral da apresentação e ambientar no novo espaço, o palco. Enquanto os artistas ensaiavam as músicas...


... os participantes acompanharam tudo com atenção.



É preciso ensaiar até mesmo o contato com o público, imaginando as reações e possíveis interações!


Agora é a vez dos participantes entrarem em cena. Cantando com Dimir Viana...


... e contribuindo na contação da história do João Jiló.


Teve também uma coreografia com bambus inspirada na dança africana maculelê.



E, no final, a preparação para uma grande roda a ser feita com o público.


Você já viu um coração de gente? E olha que para isso não teve ensaio! rs...


Bom, agora que ficou tudo preparado, familiares, amigos e público presente, convidados a postos...  é hora do frio na barriga!!!


A Secretária de Cultura Helena deu as boas vindas a todos.


E que começou a cantoria!!! Olha quem vem lá, olelê oleolá!!!






E com muita animação começou a apresentação.




As Marias deram o ar da graça, junto com a amiga dona Preta.






Com os figurinos, luzes e panos coloridos a apresentação ficou ainda mais bonita!


Ao final da apresentação, o público foi convidado para fazer uma grande roda da porta do Centro Cultural.






No dia 12, foi realizado um cortejo de agradecimento à família dos participantes da oficina
pelas ruas do bairro dos Leites. 

A caminho da oficina, os oficineiros foram aquecendo os instrumentos e a disposição!




Os participantes também foram entrando no ritmo...




E a música então se derramou pelas ruas, janelas, portas e corações...




Você já conhece esta cantiga?

"Penerei fubá, fubá caiu
Eu tornei a penerá, fubá sumiu
aiaiai foi ela quem me deixou
aiaiai por que não me tem amor"




"Tá caindo fulô ê, tá caindo fulô 2x
lá do céu, cá na terra
olelê tá caindo fulô"






E chegou a hora de ir embora...

"Tchau tchau, tchau amor
vou embora pra bem longe mas te levo no pensamento pra onde for"




"Lá vai a cantoria para desembolar
os versos do amor amor amor que eu quero dar
Cidadão me dê licença pr'eu sair desse salão
com meu chapéu na cabeça e a viola na mão."




É... a cantoria agradou moços e velhos, adultos e crianças. 
Coração renovado, hora de partir. Missão cumprida!


No dia 13, foi feita uma visita ao povoado de Lagoa, que irá receber as atividades da Caravana em setembro. Também foi feita uma reunião com os produtores locais para organizar as atividades dos próximos meses. 

Na semana seguinte, a oficina foi retomada. No dia 14,  o trabalho foi iniciado com aquecimento vocal e corporal e o desenvolvimento das noções de grave, médio e agudo. Depois, houve jogos teatrais como zip-zap-bop-toim, pegador de nomes e Jana Cabana. 



Depois, foi retomada a dinâmica de contação de histórias. Desta vez, os participantes deveriam encenar uma história inventada a partir das narrativas da semana passada. A história inventada deveria também conter uma “grande” surpresa. 


Durante o ensaio das cenas, buscou-se introduzir os conceitos básicos de improvisação teatral sistematizados por Viola Spolinquem, onde e o que. Para que a cena teatral seja compreensível, precisamos deixar claro para os espectadores: o lugar onde acontece a história (onde), os personagens que participam da cena (quem) e o que acontece na história (o que).


Ao final da oficina, Dimir compartilhou a música "Bichos da serra".


No dia 15, os participantes apresentaram as cenas criadas e ensaiadas. 
Uma história impactante foi trazida pelas crianças: uma mãe que preferia ficar no celular conversando com suas amigas, chamando pra sair, do que dando atenção para a sua filha. A filha reclama e a mãe se irrita. As duas brigam e a mãe pede pra filha ficar calada. A menina chora e a mãe irritada a coloca de castigo porque não suporta ouvir o soluço dela. Uma vizinha chama o conselho tutelar que chega na casa explicando que recebeu uma chamada e quer saber se há algum problema. A mãe diz que está tudo bem, está sozinha em casa. A menina soluça e o integrante do conselho descobre que a menina está presa no quarto. O conselho decide levar a menina embora. A mãe não chora, nem se despede. Diz que está aliviada e volta ao telefone. Impactante a cena e a consciência das crianças, não é mesmo?






Para preparar as atividades, a equipe do projeto fez reuniões de produção e ensaio das músicas e cenas.




Durante a programação de agosto, aconteceram algumas ações complementares.

A equipe da Viraminas fez um vídeo-documentário com histórias e músicas de mestres da cultura popular de Carbonita. 

Na primeira visita, conversamos com Maria de Jesus Fernandes, conhecida como Maria Buracão (depoimento ao final do relato) e sua irmã, Maria dos Reis Aguilar. O encontro contou com participação de dona Preta, amiga e parceira das irmãs.






Para celebrar este encontro tão bonito, o artista Ronildo Prudente fez uma música em homenagem às irmãs Marias:

As Marias de Carbonita

Eu vou cantar meu caboco
Quem quiser canta mais eu
Da vida dessas Maria
Que em Carbonita nasceu
Ô Maria canta mais eu
Ô Maria canta mais eu

As moça nasceu na roça, Forquia e Abadia
A luta era dificil, na lida do dia a dia
Mas a vida sorri mais 
Pra quem vive na alegria

Oi Maria vem cá
Eu vô
Me Ajuda a cantá
Eu Vô                  (2 vezes)

Olha os vestido das moça 
As moça memo é que fez
Maria fez de Chitinha
Regina fez de xadrez

Refrão
Quando era madrugadinha
As menina ia estudá 
Nóis acorda com o canto do galo
Elas que acordava o galo pra cantá 

Refrão
No caminho  escola 
já cansada de andá
De repente era gritaria
Ói cuidado com o Boi 
que ele vai te pegá +

Óia o boi,
Cuidado que ele vai pegá (4 vezes)

E a vida das menina, 
que aprendeu escrever no chão
com alegria segue a sina
com o bem no coração
nessa história tão bonita
escrita com as própria mão
Refrão

Na segunda visita, encontramos com o Sr. José Amaral, conhecido como Zé do Gido, querido violeiro de Carbonita. 




E através da sensibilidade do artista Ronildo Prudente, surgiu esta música em homenagem ao violeiro Zé do Gido.

Zé do Gido

Foi no braço da viola
Nas cordas do violão
Zé Pereira, Zé do Gido
Mostrou ser de opinião.


Moço nascido na roça,
Sem leitura e instrução
Tinha o que tem mais valia
Coragem no coração.

Nos seus sonhos de menino
Quis um mundo bem melhor
Acreditou no destino
De uma vida em tom maior
E foi buscar

Saiu pra cidade grande,
Deixou seu interior
Mas no interior do peito
Carbonita que ficou

Teve as suas conquistas
Se fez na sua verdade
Mas quem sai de Carbonita 
Paga o preço da saudade.

O menino então voltou
Homem feito e vencedor
A missão tava cumprida
E forjado seu valor
E foi cantar

Canta o galo no terreiro 
No pomar o sabiá
Zé do Gido de Carbonita
Canta bonito em qualquer lugar.

A convite da Maria Buracão, a equipe do projeto fez uma visita artística na casa dela, com direito a cantorias, causos e mesa farta!




Maria nos apresentou o seu caderno de músicas, uma verdadeira relíquia.


O encontro foi todo fotografado e filmado, numa verdadeira mistura entre tradição e modernidade, antigo e novo.



E olha a atenção e o carinho na comida preparada para esse encontro!




Saiba mais 
Oralidade - conheça mais sobre este assunto fascinante...

Depoimentos

"Estou participando das atividades da Caravana de Artesania há dois meses. Meu irmão Vitor Hugo está participando desde o início. Eu comecei a ouvir ele contar como eram as oficinas, as atividades, os professores e fui com minha família assistir uma apresentação no bairro Simão em um domingo à tarde. Fiquei encantada, fascinada. Não me esqueço do nome da peça “As rimas do amor”, foi uma apresentação divertida, bonita tinha um palhaço que não abriu a boca mas fez o pessoal rir do início ao fim. E as gêmeas lindas cantam, tocam e atuam... Gente, eu fiquei encantada! Quero muito ter a oportunidade de ver e participar da oficina delas, elas me inspiram tanto que  até entrei  em uma aula de violão. Quero muito ser igual elas, ou quase, né? kkk... (risos) E foi assim que eu comecei a fazer parte deste grupo maravilhoso. Participei do teatro “fórum” dirigido por Dimir, me surpreendi quando subi no palco, parecia outra pessoa, eu não senti vergonha nenhuma. Vi que tenho talento e posso aprender mais e mais. Foram dois meses maravilhosos, estou triste agora, pois não gosto de despedidas e é estranho saber que mês que vem não estarão aqui com a gente. Minha mãe falou que não posso ser egoísta, que o trabalho de vocês é maravilhoso e mais pessoas devem ter a oportunidade de conhecer, convive e aprender. Só tenho a agradecer por tudo, pelos conhecimentos, pela oportunidade de participar com meus irmãos de umas oficinas tão maravilhosas, de conhecer tantos professores, artistas gente como a gente. Mas enfim... até breve, pois sei que vão voltar o mais rápido possível e estaremos aqui à espera de vocês. Até logo, meus amigos e mestres." 

Ana Júlia Pereira Alves, 14 anos, participante da oficina.


"Eu achei esse projeto muito interessante, pois aprendi muitas coisas boas e legais. Conheci o projeto nas férias, participei da oficina de circo, foi tudo maravilhoso, aí então resolvi participar de tudo. Gostaria que acontecesse mais vezes, pois fazemos novas amizades, adquirimos conhecimentos e o mais importante colocamos em prática. Me senti muito feliz no momento em que estava atuando no espetáculo “Ciranda e Prosa.” Meu coração bateu acelerado quando subi no palco, foi lindo demais! Mas infelizmente os professores estão indo para Lagoa, vou sentir muita, mais muita saudade de todos. Vou contar os dias para eles voltarem. Carbonita vai ficar triste sem eles, mas ano que vem vou estar com eles novamente e tenho certeza que será ainda melhor." 

Raissa Ferreira Bonfim, 10 anos, participante da oficina.


"As oficinas de agosto foram perfeitas com contos e cantorias. Uma verdadeira mistura de gerações, das Marias e sr. José e Egídio com suas músicas e  histórias de vidas, como também as crianças... Cada pessoa com sua história, com sua  essência. Quem teve a oportunidade de  assistir  a apresentação no Centro Cultural, foi mágico quando Dimir Viana entrou com as crianças, vozes perfeitas. A história de João Jiló narrada por ele foi emocionante! A concentração das crianças  e do público foi emocionante... Deixando todos nós responsáveis pelo trabalho com o orgulho de estar atingindo nosso maior objetivo que  é incentivar  a arte  e o teatro, além de contribuir para dias melhores em meio a tanta violência nos dias de hoje. "

Cristiane Coelho, assessora de comunicação do projeto e moradora de Carbonita. 


"Há o que falar do pessoal do teatro???
Vou falar que foi uma alegria enorme na minha vida ter conhecido um povo tão especial, educado, atencioso, respeitoso, inteligente... Conheci eles na Casa da Criança, participei das atividades com eles no Simão, fui nos CRAS dos Leites e não larguei mais (kkkk).
Eles ensinam muita coisa boa, danças, histórias, brincadeiras, ginástica, teatro e para todas as idades: criança, adolescente, adulto, velho, tudo!
Mas pra mim, o melhor foi reviver minhas raízes, lembrar do meu passado. Todo mês era uma alegria diferente, eram pessoas diferentes... Conheci o Márcio Gato, uma pessoa maravilhosa, canta igual um sábiá, lindo mas lindo mesmo! Com o palhaço Cícero ri até a barriga doer, ô homem engraçado! E conheci minhas gêmeas do sertão, a coisa mais linda do mundo, duas flores de Deus, cantam e tocam, suas músicas entraram dentro do coração da gente e nunca mais saíram. Eu quando lembro delas, eu choro de saudade. Peço Deus pra ver elas de novo antes deu ir morar com ele.
Conheci tanta gente boa, os cabelinhos enrolados (Dimir e Cristiano) que são os que cuidam de tudo, são nossos anjos.
Agora conheci o Paulo e o Ronildo, que vieram conhecer a minha história. Fizeram uma música linda pra eu cantar com minha irmã e minha amiga Preta. Ô gente, foi lindo demais, meu coração quase saiu do peito.
Eu agradeço a Lena do Retiro que se lembrou de mim, que está com vocês alegrando nossa Carbonita, deixando a gente mais feliz. Isso que vocês fazem é um presente de Deus nas nossas vidas, é uma coisa maravilhosa. Vocês entram na nossa casa, na nossa vida, no nosso coração e nunca mais vão sair.
Eu falo pra estas crianças dar valor nisso que nós estamos vivendo, pois elas vão contar pros filhos, netos e bisnetos.
Eu só tenho a agradecer tudo que a gente viveu estes meses e falar que vou sentir uma saudade enorme de vocês que o coração vai até doer.
Vou cantar a música que vocês sempre cantam nas despedidas e estarei aqui em Carbonita de porta e coração abertos esperando vocês e, por favor, não demorem não!
'Tchau tchau amor, tchau tchau amorvou embora, mas te levo no pensamento aonde for...'"

Maria de Jesus Fernandes (Maria Buracão), 66 anos



Balanço de agosto de 2017
Projeto Caravana de Artesania - Associação Pano de Roda
Cidade: Carbonita, MG (Vale do Jequitinhonha)
Atividades e abrangência (aprox.):
De 7 a  15/08 - Oficina Montagem - 29  participantes 
Dia 11/08 - Apresentação Ciranda e Prosa no Centro Cultural - 115 espectadores
Dia 12/08 Cortejo cênico-musical no b. dos Leites (visita a 10 casas) - 68 espectadores
Dia 13/08 - Visita artística a casa da Maria Buracão -  14 participantes/público