"Abadia não é vila, e também não é cidade.
Abadia é uma chapadinha, fazedeira de saudade."
(versos da comunidade)
De 9 a 19 de novembro, foram realizadas apresentações, oficinas de sensibilização para crianças, jovens e adultos, rodas de conversa e visitas a pessoas da comunidade. As atividades aconteceram no Salão do Conselho Comunitário, na Praça Nossa Senhora de Abadia e outros espaços.
Acompanhe o relato abaixo, inspirado no texto de Paulo Sidney, produtor local do projeto e morador do distrito e com imagens de Markus Câmara e colaboradores.
Dia 10/11 - Lançamento do projeto com roda de conversa, fotos e intervenção
Após a apresentação das fotos realizada num passeio no Distrito por Marcos Câmara e a equipe, Cristiano Pena iniciou a conversa com a pergunta:
"Qual é história que eu conto do lugar onde eu vivo?"
Aos poucos, as pessoas foram contando suas historias e porque esse lugar é especial em suas vidas...
O grupo cantou uma música muito comum aqui nas apresentações da comunidade, "Casinha de Bambuê". Nessa época, a Casinha Cultura ainda funcionava e recebia público de todas as idades para trocar experiências. Para fechar o encontro, ouvimos o jovem Carlos Eduardo Silva Sousa cantar uma de suas composições ao som do violão.
Dia 11/11 - Apresentação no Salão do Conselho Comunitário
Devido as chuvas, a apresentação foi realizada no Salão do Conselho Comunitário. Tivemos um público composto por crianças, jovens e adultos.
Em seguida, os atores Leonardo Ortiz e Luciana Antunes incorporaram os personagens do Sr. Gerônimo e Dona Ana, fazendo a alegria do público presente.
Aos poucos, vamos percebendo as interações entre o grupo e comunidade. Cresce a esperança de dias melhores nesse maravilhoso lugar, distrito de Abadia.
Arte no Distrito de Abadia – Arte que transforma.
Orientada por Cristiano Pena, a oficina consistiu em encontros com pessoas mais velhas da comunidade que foram entrevistadas por ele e personagens mascarados. Compartilhamos alguns trechos no Facebook, com a intenção de criar depois um vídeo completo com as histórias de vida dos entrevistados.
Combinamos de encontrar com os participantes na praça às 13h. Imaginamos um publico pequeno para o passeio, devido a agenda cheia neste dia e a quantidade de habitantes do Distrito. Mesmo assim, tivemos a grata surpresa de encontrar cerca de 28 pessoas na praça!
Após nos apresentarmos, o senhor Herculano dos Santos (Neném do Neco) concedeu uma entrevista a Cristiano Pena e todo o grupo. Tivemos o prazer de ver, ouvir e registrar a linda historia de vida deste senhor que há mais de 40 anos mora nas margens do maravilhoso rio Água Limpa.
Após a entrevista, fomos ver o engenho de cana, palco de tantas batalhas deste homem humilde, honesto e respeitado por todo o Distrito de Abadia e região.
O antigo engenho, pesado e de madeira, estava coberto e descansando...
Ao som da voz mágica de Luciana Lourenço, o grupo colocou as canas no novo engenho, mais leve do que o antigo e a roda do tempo começou a girar...
Tomamos a garapa da cana que acabara de sair dali mesmo direto do engenho. O grupo fez a festa e eu vi nos olhos de cada um o brilho da criança escondido lá no fundo...
Fomos muito bem recebidos por este senhor adorável!
Então, chegou a hora de retornar para o Distrito. No caminho, mais plantas, frutas e historias... A visita inspirou o grupo da Caravana da Artesania a visitar os nossos anciões e nos ajudar a redescobrir as nossas raízes culturais.
Dia 13 - Visita a Dona Dina
Nesta visita, 8 participantes se juntaram ao grupo da Caravana para visitar a senhora Leopoldina Corrêa Tupinambás (Dona Dina), nascida no dia 4 de janeiro de 1923. Entrevistada pelos personagens Gerônimo e dona Ana, Dona Dina falou do seu tempo de criança, das tropas que viajavam até Diamantina levando mercadorias, das festas de Nossa Senhora de Abadia e das amizades que cultiva na comunidade. Contou-nos que trabalhou como professora da 1ª a 4 ª série, mesmo tendo estudado só até a 4ª série, mas que ensinou com alegria e sabedoria os seus alunos. Me marcou um momento da entrevista onde ela brincou: “Não pergunte besteira, que eu respondo bobagem.” E noutro, ela revelou que viverá mais de cem anos e que o segredo é comer sempre uma porção maior de feijão do que as demais misturas.
Dia 14 - Visita à casa de Dona Luzia e casa do Sr. Vicente e Dona Pedrelina
Junto com 11 pessoas da comunidade, seguimos para a casa de Dona Luzia Gonçalves da Silva, de 73 anos para registrar mais um encontro especial com os anciões da nossa comunidade. Esta senhora simpática e guerreira das batalhas do dia-a-dia compartilhou conosco algumas de suas experiências de vida. Nascida e criada nesse distrito, nos relatou como eram os namoros de seu tempo: “era só de longe, não podia nem chegar perto. Se pegasse na mão, teria que casar ou seria mulher à toa”. Falou das dificuldades para estudar, dos trabalhos pesados desde a infância e que para deixar de sofrer casavam-se muito cedo com a expectativa de ter uma vida mais tranquila. Dona Luzia sabe benzer contra inveja, mal olhado e conhece muitas plantas medicinais. Apesar da idade, ainda trabalha. Cuida da casa, cultiva sua horta, faz óleo de coco e de pequi, sabão caseiro... Levanta 3h da manhã para ir a feira, faça chuva ou sol. Afirmou que não consegue parar, pois como trabalhou desde a infância, virou costume. Deixou como mensagem final sua preocupação com o futuro das nossas crianças e jovens por causa do mundo cheio de violência e drogas.
Dia 15 - Visita à casa do sr. Antônio
Há cada encontro, os participantes ficam mais entusiasmados com as visitas, querem visitar mais anciões e já começam a dar opiniões sobre como proceder. Nosso grupinho está ali forte, sempre 11 a 12 pessoas, mas com muito entusiasmo.
Nesse ritmo, seguimos então para a casa do senhor José Antônio dos Santos, de 63 anos. Todos nós aqui o chamamos carinhosamente de “Raposa”. Essa figura aqui do Distrito cuidou durante muito tempo da água que chegava à casa de cada um de nós. Então, ele não podia deixar de falar de como era o sistema de água bem antes ser o homem usar a água deste lugar.
Relatou-nos que a água chegava à praça através de um pequeno rego e que até pequenos peixes chegavam na praça e que quando ele conta quase ninguém acredita, pois hoje o córrego do qual vinha a água pede socorro e praticamente não existe mais. Senhor Antônio falou também das histórias deste lugar, das festas de Nossa Senhora da Abadia e dos acontecimentos como as cantigas de roda e as folias.
Dia 16 - Visita à casa de Dona Francisca e Dona Conceição e seu filho Chiquinho
Dona Francisca Cordeiro de Araújo (Chica) de 77 anos nos recebeu com muito carinho e atenção. A entrevista desta vez aconteceu do lado de fora da casa, de frente para a Igreja de Nossa Senhora de Abadia.
Ficamos ali de pé envolta de dona Francisca, seu Gerônimo e dona Ana. Dona Chica relatou-nos sobre sua devoção a Nossa Senhora e seus milagres. Afirmou ter recebido dois milagres. Um deles foi quando sua filha caiu e não conseguia mais andar. Então, ela fez uma promessa a Nossa Senhora de Abadia para que a mesma andasse de novo. Após ter feito o pedido à santa milagrosa, sua filha levantou e caminhou normalmente e por isso ela afirma ser devota e fiel. Relatou-nos também que faz benzeções para todo tipo de males e que pode ser de longe, ela não precisa estar presente para que o mal se cure: “fé é a base de tudo”, afirma dona Francisca.
Nesse mesmo dia, visitamos também dona Maria da Conceição do Amaral, de 80 anos e seu filho, Francisco, de 50 anos. Dona Conceição nos recebeu com muita alegria e nos mostrou uma série de objetos do tempo de sua criação, como uma candeia que era usada para clarear a casa todas as noites, a velha máquina de costura manual, o pilão... e falou de vários artefatos usados em seu tempo. Contou-nos que a casa onde nascera era feita de pau a pique e de cipós São João e que os mesmos não podiam ser retirados da natureza em qualquer época, tinha que ser em uma fase específica da lua, porque senão a casa era atacada por pragas e não durava muito tempo. Com orgulho, conta que foi parteira e realizou exatamente 80 partos e que nunca perdeu nenhuma criança durante esse tempo.
E assim terminamos nossas visitas. Parabéns ao Cristiano e a toda equipe, por fazer a diferença para o meu povo.
Dia 17
Hoje a Caravana de Artesania preparou um delicioso café para o grupo que ficou surpreso e feliz com a cortesia. Na casa, trocamos experiências e vimos um vídeo. Cristiano falou sobre Abadia e suas qualidades, sugerindo que o local poderia se tornar um ponto turístico, com foco por exemplo no turismo comunitário.
Cheio de harmonia e felicidade, o grupo seguiu para a praça onde encontramos mais pessoas para uma animada roda de viola: cantamos versos e tocamos até quase as 21h! Tivemos o prazer de ouvir uma composição de Dimir Viana que foi criada aqui mesmo em Carbonita. Esse dia teve a participação de aprox. 32 pessoas. A essa altura, a Caravana de Artesania já não era mais uma novidade pra ninguém e sim uma realidade que aos poucos vai mostrando a todos que não se trata de um grupo de palhaços e sim um grupo de artistas completos capazes de trazer à alegria, mas também de resgatar os valores de povo que parecem estar cada vez mais distantes de suas raízes culturais.
Oficina com as crianças
A oficina foi orientada pelos artistas Leo Ortiz e Luciana Antunes. Os encontros aconteceram no Salão do Conselho Comunitário, às 14h.Dia 13
Os oficineiros Leo e Lu se apresentaram e as crianças logo se identificaram com eles. Após algumas brincadeiras, percebemos que as crianças brincam pouco... Os oficineiros realizaram brincadeiras novas com os alunos e aprenderam algumas versões das brincadeiras do dia a dia deles aqui. No final, fizeram dois exercícios bacanas de como criar uma historia.
Dia 14
Os oficineiros começaram a oficina propondo algumas regras com as crianças para conviver e aproveitar ao máximo as oficinas. São elas:
-Tomar água nos intervalos definidos pelos oficineiros;
- Prestar atenção quando o colega estiver falando;
- Participar das atividades propostas;
- Falar um de cada vez.
Luciana Antunes falou um pouco sobre o comportamento e desinibição dos garotos e garotas. Para fechar o dia, foram formados dois grupos com a tarefa de criar, contar e encenar uma historia.
Dia 15
Começamos o dia aquecendo com algumas brincadeiras:
- Círculo caminhada;
- Caminhada pandeiro;
- Ruas e vielas;
- Pique- pega em fila.
Observo um avanço no comportamento e na interação das crianças participantes. Cada dia brincam mais e mais. As brincadeiras estão tão animadas que ninguém quer parar nem para tomar água! As intervenções e regras começam a funcionar e os encontros ficam mais atraentes. Lu e Léo trabalham com as crianças como falar em público e a resolver problemas. Então, deram sequencia ao trabalho de criação da historia, ensinando-as a contracenar.
Dia 16
As crianças chegaram cheias de expectativas para mais um encontro com o tio Léo e a tia Lu.
Desta vez os oficineiros trouxeram brincadeiras de aquecimento:
- Bolinhas e Círculos;
- Rei ou rainha com chapéu;
- Auitcha tchab tchab;
- Modelar estátua.
Temos dois meninos especiais nas oficinas - Miguel e Vitor. No começo só observavam e agora já estão incorporados ao coletivo. Os oficineiros dividiram a turminha em grupos para criar, contar e encenar uma história. Os meninos encenaram uma historia conhecida como “As travessuras do menino Pedro” e ficou ótima.
Dia 17
Após o aquecimento, a turma foi para o ensaio da peça. Combinaram cada detalhe com os oficineiros: as características de cada personagem e o que cada um tinha que trazer para se arrumar no dia da apresentação.
Dia 18/11 - Apresentação artística das crianças e exibição de vídeos
Neste dia agradável, o nosso Cristiano escolheu de forma criativa e sábia um lugar perfeito para o encerramento. Às 18h30, na Praça de N. S. de Abadia em frente a casa do sr Hermes Corrêa Araujo, a Caravana de Artesania recebeu um público de 60 pessoas entre elas, crianças, jovens e adultos para acompanhar o fechamento das atividades realizadas ao longo da semana.
A casa e lugar estavam bonitos, bem decorados...
Depois, foi a vez das crianças apresentarem a historia ‘’As travessuras do menino Pedro’’. Para caracterizar os personagens, elas buscaram roupas e adereços no distrito. O público ficou fascinado com a atuação das crianças e a participação das crianças especiais, Vitor e Miguel.
Ao final, agradeci a presença de todos e o carinho que a comunidade tem recebido a Caravana de Artesania em suas casas. Cristiano então passou os vídeos com as visitas aos nossos anciões. Vimos nos olhos de cada um a conexão com suas raízes culturais. O público ficou atento a cada detalhe e nós da equipe nos sentimos satisfeitos com o trabalho. Cristiano Pena agradeceu a todos e falou da continuidade deste belo e significativo projeto.
Esta oficina teve a orientação de Cristiano Pena, Dimir Viana e Raquel. Os encontros também aconteceram no Salão do Conselho Comunitário, no horário de 16h.
Dia 13
O encontro começou com um aquecimento debaixo da histórica árvore aqui do distrito: o pau-de-óleo. Alongamos, trabalhamos o corpo e a voz, interagindo com o meio ambiente de forma inspiradora. Começamos a desenvolver um pequeno projeto: criar um episódio de uma rádio novela para apresentar na rádio local, a Rapotec.
Os oficineiros Dimir Viana e sua esposa Raquel, recém chegados ao distrito, foram apresentados e incorporados ao projeto. Dimir instruiu os jovens sobre os procedimentos para a criação de uma história de uma rádio novela. Para envolver alguns adolescentes que estavam desatentos, Dimir contou a história de João Bobo. Os jovens ficaram perplexos com sua forma de interpretar e contar a história e a partir deste momento, o orientador conquistou o respeito e a confiança do grupo.
Rádio local |
Desa vez, os jovens chegaram mais animados para aprender novas experiências. Dimir apresentou-lhes as regras para a criação de uma história, utilizando vídeos e técnicas. Ao final, dividiu a turma em três grupos que tinham a tarefa de criar uma historia que se passa no Distrito.
Após ouvir as três histórias criadas, escolheu-se uma delas para inspirar a criação da rádio novela. A história escolhida trata de um casal apaixonado que vivia no distrito, mas que precisava enfrentar alguns desafios para namorar. Dimir reestruturou a história adicionando detalhes, definido personagens e suas funções e acrescentando músicas e sons para encantar ainda mais os ouvintes.
Dia 17
Após distribuir os personagens da história entre os participantes, foi feita uma leitura da história. Neste primeiro ensaio, deu pra ter uma ideia dos diálogos e momentos da historia.
Dia 18
O grupo iniciou o processo de gravação da rádio novela. Ansiosos, os jovens viram que seria necessário disciplina, concentração e perseverança para realizar esta tarefa. Mas também perceberam que se tratava de algo grandioso que valia o esforço para dar o seu melhor.
A comunidade de Abadia estava aguardando ansiosamente a expectativa de ouvir a primeira edição da rádio novela, criada e produzida com participantes do Distrito... quando recebeu a notícia de que faltou energia. Ah... até parece novela! Por causa do contratempo, o programa não pôde ser exibido ao vivo e foi então adiado. Bom que o processo de gravação foi totalmente concluído. Dimir ficou de levar o trabalho para ser moldado em um estúdio e então encaminhar novamente para o distrito.
Curiosidade
- O distrito de Abadia tem 209 habitantes, segundo levantamento feito em 2015 através de um trabalho escolar orientado pelo professor de geografia Emerson de Paulo Barbosa com os alunos do 8.º ano da Escola Municipal.
- A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o envelhecimento em quatro estágios:
meia-idade, de 45 a 59 anos; idoso(a), de 60 a 74 anos; ancião de 75 a 90 anos; e velhice extrema, de 90 anos em diante.
Vídeos
Entrevista 1
Entrevista 2
Entrevista 3
Entrevista 4
Moinho
Cantoria 1
Cantoria 2
Balanço de novembro de 2017
- A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o envelhecimento em quatro estágios:
meia-idade, de 45 a 59 anos; idoso(a), de 60 a 74 anos; ancião de 75 a 90 anos; e velhice extrema, de 90 anos em diante.
Vídeos
Entrevista 1
Entrevista 2
Entrevista 3
Entrevista 4
Moinho
Cantoria 1
Cantoria 2
Balanço de novembro de 2017
Projeto Caravana de Artesania - Associação Pano de Roda
Cidade: Carbonita, MG (Vale do Jequitinhonha)
Atividades e abrangência (aprox.):
Dia 10/11 - Roda de conversa, exibição de fotos e intervenção artística - 60 participantes
Dia 11/11 - Apresentação no Salão do Conselho Comunitário - 40 espectadores
De 12 a 17/11 - Oficina com os adultos e 5 intervenções artísticas - 30 participantes/espectadores
De 13 a 18/11 - Oficina com as crianças - 14 participantes
Dia 18/11 - Apresentação artística e exibição de vídeos - 60 espectadores
De 13 a 19/11 - Oficina com os jovens - 10 participantes
Dia 11/11 - Apresentação no Salão do Conselho Comunitário - 40 espectadores
De 12 a 17/11 - Oficina com os adultos e 5 intervenções artísticas - 30 participantes/espectadores
De 13 a 18/11 - Oficina com as crianças - 14 participantes
Dia 18/11 - Apresentação artística e exibição de vídeos - 60 espectadores
De 13 a 19/11 - Oficina com os jovens - 10 participantes