Chegamos na sexta (dia 8). Fomos recebidos pela Cia Teatral O Salto. Após armamos nosso "circo" no Floresta Clube, iniciamos as atividades logo de noite.
O bate
papo reuniu integrantes da Cia O Salto e novos participantes. Falamos sobre
motivações pessoais e coletivas, identidades socioculturais, a proposta do
Ponto de Cultura, contexto político-econômico para as artes, profissão do
artista e escolhas de vida. Os participantes são pessoas motivadas pela arte,
todos já foram em apresentações teatrais e de circo e passaram por oficinas de
artes cênicas. Vários participantes gostariam de “viver da arte”, mas encontram
dificuldades como acesso a conhecimentos, bens culturais e meios de produção e
apoio da família. Alguns participantes decidiram se profissionalizar e estão
buscando orientações para fazer o registro profissional como “Palhaço(a)”. A
conversa foi animada, preparando o clima para os encontros seguintes.
No sábado (dia 9), iniciamos o processo criativo. O caramanchão foi o local escolhido para abrigar as atividades.
No sábado (dia 9), iniciamos o processo criativo. O caramanchão foi o local escolhido para abrigar as atividades.
Júnia Bessa
orientou o aquecimento corporal trabalhando as articulações e sensibilizando
para os planos baixo, médio, alto e altíssimo, as variações de tônus (energias)
ar, água e pedra e os ritmos do movimento lento, normal e rápido. Cícero Silva
trabalhou o estado do palhaço através de exercícios e jogos teatrais, como “Fricote”,
“Zip zap blong”, “O lenhador” e o “Jogo da cadeira”. Também falou sobre o absurdo, ou burlesco, e os tipos de dramaturgia palhacesca (composição,
contraponto e conflito). Estamos reunindo anotações sobre as atividades e os
roteiros criados para compor o “acervo teórico-prático” da Caravana, a ser compartilhado
com quem tiver interesse.
Cristiano Pena propôs a cada participante criar uma cena inspirada na linguagem do Palhaço a partir da interação com uma cadeira. Após apresentação das cenas, vimos: a importância de se olhar o público (cumplicidade, não exposição), a fé cênica (acreditar na situação), diferenças entre a verdade “real” e a “inventada”, escuta do objeto e do ambiente, gostar do erro, criar gráficos de emoções e ritmos, usar ou não a máscara do palhaço (nariz) e relação com o colega (competição e colaboração). De tarde, a equipe do clube nos convidou para apresentar num evento que estava acontecendo no clube. Apresentamos então cenas e músicas inspiradas na Arte de Palhaços, gerando oportunidades para experimentarmos o “estado do palhaço” com a presença direta do público.
No domingo (dia 10), tivemos mais um momento para vivenciar a arte de
palhaços. Júnia Bessa puxou o aquecimento corporal, num ritmo mais acelerado.
Cícero Silva ativou o “estado do palhaço” a partir do jogo “batata quente
1 2 3” e outros.
Cristiano Pena propôs que 3 participantes criassem uma cena e os outros 3
fossem os “orientadores” da cena criada, formando duplas. Poliana Reis
experimentou a cena da flor e regador, com orientação de Júnia Bessa. Nataniel
Flávio criou a cena do “entregador de presentes” com orientação de Cristiano
Pena. E Joice Barbosa foi orientada por Cícero Silva. Preparamos o espaço do
Caramanchão para receber o público e apresentamos as cenas para os
frequentadores do clube, que é aberto à comunidade, gerando mais um momento comunitário de
fruição artística. Após o almoço, apresentamos novamente, com pausas para comentários do público e dos participantes após cada cena.
Na segunda (dia 11), tivemos momentos para atividades internas:
produção, intercâmbio com Cícero Silva e preparação específica para prova do
Sated-MG (Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos de Minas Gerais). Aprendemos cascatas (quedas e tropeços), entre outras habilidades cômicas.
Na terça (dia 12), fizemos um cortejo cênico-musical pelas ruas do centro industrial, uma região histórica que reúne moradores, áreas verdes, rio, igreja e a sede da ArcelorMittal (antiga Belgo). Portas, janelas e corações se abriram para "ver a banda passar".
De tarde, mais ensaios. Além da interpretação, comentamos sobre o uso de maquiagem, figurinos e adereços. Na quarta (dia 13), ensaiamos cenas de manhã e apresentamos de tarde, no Centro Educacional Luz Sublime em Bela Vista de Minas.
Na quinta (dia 14), aquecemos corpo e voz. Depois, fizemos um bate papo, orientado por Poliana Reis, sobre "Cultura e Ator Social". Vimos que o conceito de cultura teve várias interpretações no campo da sociologia: Taylor (evolucionismo, hierarquia cultural), Geertz (não existe uma Cultura, existem culturas - sentido e significado que cada cultura dá para si mesma) e antropólogos brasileiros ("dar voz" aos índios, negros e outras minorias). Cícero lembrou que na biologia também se usa expressões como "cultura de bactérias". Vimos que a cultura humana não é superior a natureza e que o respeito à diversidade é um processo onde o que faz a diferença é atitude de cada pessoa, grupo ou comunidade. Daí, Poliana falou sobre o conceito de Ator Social: a capacidade de refletirmos sobre nosso meio e atuarmos de uma forma diferente, que contribua para o bem comum. Buscamos então relacionar as reflexões lançadas com o contexto da cidade, da arte e da Caravana.
De tarde, apresentamos na Escola Estadual Santana em João Monlevade. Para convidar o público, um inesperado cortejo musical que encantou os alunos. Uma sala até preparou uma surpresa para nos receber!
A animação foi tanta que a alegria continuou após a apresentação. Uma professora propôs aos alunos desenharem os personagens do teatro e escreverem uma redação sobre uma das cenas. Estamos ansiosos para ver o resultado!
Na sexta (dia 15), fizemos um breve aquecimento do corpo de da voz para manter a sensibilidade em dia. Depois, Poliana Reis continuou a conversa do dia anterior, acrescentando ideias sobre “Sociedade e Ética”. Vimos que o ser humano só se torna "humano" partir da convivência social. Ao compartilhar propósitos, preocupações e costumes os seres humanos estabelecem relações de comunidade ou sociedade. A convivência humana recebeu vários olhares ao longo da história. Rousseau considera que os seres humanos nascem puros e inocentes (o bom selvagem) e que a distância da natureza os corrompe, sendo então necessário um contrato social onde a soberania do poder deve estar nas mãos do povo, através do corpo político dos cidadãos. Já Hobbes afirma que os homens são maus, guiados por suas paixões ou desejos ("o homem é o lobo do próprio homem). Vimos que nosso mundo está repleto de lógicas diferentes, visões convergentes, complementares e opostas sobre a sociedade humana. Nesse contexto, que também envolve crises ecológicas e desigualdades sócio-econômicas, a ética pode ser uma saída. Primeiramente, distinguimos ética de moral. A moral são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade (moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau). Já a ética está associada ao estudo dos valores morais que orientam o comportamento humano em sociedade, ou seja, é uma reflexão sobre a moral. O teólogo Leonardo Boff, no artigo "ética para nova era", fala que o cuidado está ligado essencialmente à vida e que a ética do cuidado "não invalida as demais éticas mas as obriga a servir à causa maior que é a salvaguarda da vida e a preservação da Casa Comum para que continue habitável." Esse texto tão inspirador pode ser conferido na íntegra aqui.
Thiago Dornellas falou sobre “Mágica”, a arte de entreter e sugestionar a audiência, criando ilusões que surpreendem a audiência, dando a impressão de que algo impossível aconteceu. Ficamos sabendo que o truque é apenas uma parte da mágica, que envolve também outras coisas como: a apresentação, a expressão corporal, um bom argumento (história), raciocínio matemático, comunicação, psicologia, etc. Conhecemos um pouco sobre os vários tipos de mágica: clássica, pic pocket, de palco, de rua, close up, cinema, escapismo, entre outras. Também vimos algumas questões históricas, sociais, profissionais e éticas com relação ao mundo dos mágicos. Acho que só não conhecemos os segredos dos mágicos porque... são segredos mesmo! Ainda bem que ao final a curiosidade deu lugar à apreciação. Ele fez uma demonstração com uma incrível cordinha que fazia e desfazia nós "misteriosamente".
De tarde, Júnia Bessa falou sobre a importância do aprendizado oral (convivência, sabedoria, mestres, cultura popular), que pode estar também integrado ao aprendizado formal (escola, informação, professores, cultura "erudita"). E apresentou os livros e vídeos que fazem parte do acervo itinerante na Caravana.
Os participantes foram então convidados a "saborear" os livros, vídeos e músicas sobre teatro, circo, gestão cultural e temas transversais. Alguns livros foram doados para bibliotecas das escolas visitadas e grupo artístico local.
No sábado (dia 16), rumamos para Bela Vista de Minas. Preparamos o espaço para a arte...
E apresentamos algumas cenas num clima descontraído e poético.
Atenção, aplausos e "ohhhh!"s pelas habilidades circenses
alguns cometários hilários durante as cenas e muitas gargalhadas.
Ao final, fizemos um bate papo com crianças e jovens do bairro de Lages.
No domingo (dia 17), encontramos novamente com a turma do bairro, mais numerosa...
Fizemos um belo cortejo pelas ruas do bairro. Tocamos, cantamos, dançamos e apresentamos cenas de palhaço e habilidades circenses.
Agradecemos os artistas participantes da Caravana: Markus Câmara, Niel Flávio, Joice Barbosa e Marcela Barreto (Cia O Salto), Ramon Teodoro e Marilza Teodoro, Cristiano Duarte e Sérgio. Participaram desta viagem os artistas orientadores: Cícero Silva, Cristiano Pena, Júnia Bessa, Poliana Reis, Thiago Dornellas e a visitante Lúcia Helena.
Acesse nosso lindo álbum de fotos bem aqui.
Algumas notícias saíram no jornal Última Notícia,
no blog da Cia O Salto e no jornal Cidade Mais.
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