Após oito dias a bordo da nave espacial comandada pelo Capitão Cristiano Pena, com uma tripulação composta por Júnia Bessa, Heloísa Dirce, Poliana Reis, Niel Flávio e esse que lhes escreve, Cícero Silva, chegamos de Pescador-MG, município localizado na região leste.
Foram dias de poesia, música, teatro de rua, circo, rodas de conversa e tantos encontros.
Esta não é a minha primeira experiência nessa itinerante Caravana. A singularidade dessa viagem me inspira e fascina, me enchendo de gratidão. Embora ainda na nave, próximo a Belo Horizonte, um sentimento me preenche; saudade, mais que saudade, banzo, como a saudade que os negros africanos sentiram de sua terra natal quando forçados a virem para as Américas. Uma saudade de um tamanho que nos estilhaça, despedaça, e diferente daqueles, se o prazer do dever cumprido não nos trouxesse a felicidade, seria a morte. Mas a alegria de saber que sempre estaremos lá, nas pedras do calçamento daquelas ruas, nos bancos das praças, nos corações de muitos de seus habitantes, nas memórias, nas lembranças e que eles já estão em nossos corações, nos músculos de nossos afetos e na retina de nossas memórias, nos preenche e nos impulsiona desejosos por novas viagens.
Foram sete dias lançando sementes para um futuro com arte. Na artesania do cultivo que requer cuidado com a sua germinação. A quebra do período de dormência, o inflar à tênue luz do luar, o enraizamento no calor do sol, até o pleno brotar. A certeza de que a chuva deixada
à saída cuidará para que se desenvolvam e que, em sua falta, fiéis jardineiros, ali estarão, guardiães a postos com seus regadores de cultura.
A Caravana de Artesania tem esse poder, de deixar marcas de sua ocupação, em nós e nos outros, encantando a todos. De atingir mais profundamente porque atinge em camadas, as vias institucionais, as vias interpessoais e afetivas, abrindo portas e abraços, capturando em sua poética crianças, jovens, adultos e idosos. E no caminho de volta para casa, a confirmação de outras culturas plantadas já dando seus frutos e alimentando a tantos que passaram por esta experiência, sedentos por continuidade.
Curiosamente, esse lugar onde mora a hospitalidade se chama Pescador, e isso me impele a um enigma, afinal, quem é pescado, o peixe ou aquele que pesca?
Curiosamente, esse lugar onde mora a hospitalidade se chama Pescador, e isso me impele a um enigma, afinal, quem é pescado, o peixe ou aquele que pesca?
Se nossos peixes são feitos de sonhos, de ilusões, de encantos, seguro que nossas varas e molinetes, sem anzóis ou iscas, são como as varas das fadas e dos magos, cheias de brilhos e risos, que, sob a batuta do Maestro Tchano, nos põe a cantar e dançar em plena comunhão.
Que iniciativas como esta possam ser lançadas aos quatro cantos do universo rompendo fronteiras e ficando bandeiras. Vida longa ao Ponto de Cultura Itinerante Caravana de Artesania e ao Teatro Terceira Margem!
Belo Horizonte, 26 de novembro de 2013.
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