Em outubro, a Caravana de Artesania retornou em Lagoa, zona rural de Carbonita. O contato com o povoado foi aprofundado através da oficina montagem destinada a jovens e adultos, da participação nos eventos da comunidade e da visita em casas de moradores. Dias de muito aprendizado (escuta), trocas e desenvolvimentos humano e artístico.
Percorra alguns trechos desta viagem através de versos, fotos e fatos abaixo!
Dia 08/10 (dom)
Primeiro, foi feito uma visita a família do sr. Zezinho (José Maria), com direito a cantigas de modas de viola.
Depois, aconteceu a apresentação do espetáculo "Bem Vindo" com o Palhaço Café Pequeno (Richard Riguetti). Richard faz parte do Grupo Off-Sina, do Rio de Janeiro. Veio de longe... e adorou o lugar e as pessoas. Disse que cada vez mais se encanta com o nosso povo brasileiro.
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| Quando preparamos o espaço da apresentação com cuidado, o público se sente bem acolhido. Um local agradável, com sombra, cadeiras, cenário, som adequado... Detalhes fazem a diferença! |
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| A maquiagem é um momento de concentração (descontraída) dos artistas. É onde eles se preparam internamente (e externamente) para se apresentar. Desta vez, o Café Pequeno contou com uma participação especial, o Palhaço Lindinho. |
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| Ficou bonito! Os palhaços costumam usar as cores preto, branco e vermelho. Reparando bem, esses palhaços devem ter algum parentesco... concorda? |
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| E o público veio chegando, bem à vontade, pra assistir a apresentação. Crianças de todas as idades, de bebês a terceira idade. Um clima perfeito para a palhaçaria! |
"Em minha opinião, as pessoas que assistiram a apresentação além de felizes ficaram emocionadas, principalmente no final quando o palhaço disse que todos que tivessem gostado da sua apresentação levantassem do seu lugar e lhe dessem um abraço. Em instantes, todos se levantaram e o abraçaram, foi um momento único e muito especial."
Pedra Adriana dos Santos, 35 anos, moradora de Lagoa e produtora local
"Não existe palhaço ruim. O que existe é o palhaço amado e o palhaço que ainda vai ser amado." Richard Riguetti
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| Ao final, o público veio para cumprimentar e tirar fotos com o Palhaço Café Pequeno. |
Depois da apresentação, houve roda de versos, batuques e cantorias.
Dia 09/10
De manhã, foi feita uma visita ao sr. José Felício, na comunidade de Barreiro.
No fim de tarde, foram retomados os encontros no espaço conhecido como Salão do Robertinho. Houve uma roda de conversa, com músicas da comunidade e de autoria de Dimir Viana.
A oficina contou com a presença de participantes do mês passado e foi agregando novos. Foi feita uma avaliação da oficina em setembro e os combinados pra outubro.
Ensaio de músicas da comunidade para evento comunitário a ser realizado no dia 12.
Apresentação do espetáculo "Bem Vindo" com o Palhaço Café Pequeno no distrito de Abadia
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| "Senhoras e senhores, crianças e crionças... hoje tem espetáculo em Abadia. Não percam!" Com a presença do palhaço, o maleiro do carro virou um carro de som! Esse é o espírito do teatro de rua, onde a gente usa garra e criatividade pra mobilizar o público. |
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| Desta vez, o Palhaço Café Pequeno começa a fazer sua maquiagem na rua... |
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| Uma espectadora da plateia ajuda a segurar o espelho. |
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| Uai, que cadeira é essa? O público se diverte com as trapalhadas... |
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| Outra espectadora segura o espelho e olha o que ela vê: |
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| Kkkk... ficou bonito? |
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| Agora sim, começa a apresentação. Café Pequeno em ação! |
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| E o público é convidado para entrar em cena. |
Ensaio geral para o evento do dia 12, com participação da Caravana de Artesania tocando e cantando com a comunidade. O ensaio aconteceu em diálogo com uma celebração proferida por uma mulher da comunidade.
"Fé.
Confiar no que não se vê e não se conhece.
Caminhar com firmeza na escuridão, na certeza de que alguém guia nossos passos.
Acreditar no que não se compreende.
É a força que nos impulsiona, nos protege, nos cura."
Dia 12/10
De manhã, a Caravana participou de uma pequena peregrinação em direção a Capela de Nossa Senhora Aparecida, construída no alto de uma montanha situada na divisa com o município de Bocaiuva. A equipe da Caravana contribuiu com a parte musical. O evento fez parte das comemorações ao Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.
Hellen, produtora local, contou um pouco sobre a caminhada:
"Saímos de Lagoa às 5 da manhã. A caminhada teve duração de duas horas.
A cada km percorrido, fomos surpreendidas pela beleza e paz do caminho e também pela bondade e gentileza das pessoas que o percorriam.
Caminhamos por trilhas, pequenas estradas... atravessamos o rio Jequitinhonha.
A simplicidade vivenciada nesta caminhada foi sutilmente nos ensinando que é preciso não só viajar leve, como viver leve.
Com um céu azul perfeito, fomos levados ao nosso destino, sem saber muito bem onde e quando chegaríamos. Sim, o caminho nos ensinou também a confiar.
Fé? Força? Misticismo? Religião? Não sei, sei apenas que vale a pena e reforço: se você puder, faça ao menos um trecho do caminho da Fé, com o coração e a mente aberta."
De máscara e violão, Dimir contou histórias para as crianças presentes.
Na brincadeira da serpente, o público é convidado para participar.
Roda de conversa e ensaio de músicas da comunidade e de autoria de Dimir Viana e Juliana Floriano.
Novamente, foi percebida a força das mulheres, que cantam, cuidam da educação e carregam a memória do povoado.
Todas as pessoas recebem a mesma atenção, seja crianças, jovens, adultos ou terceira idade.
A oficina dialogou com uma demanda da comunidade por uma transformação emocional. Marcado pela saudade dos jovens que partem e pelas dificuldades na lida pela sobrevivência, as pessoas foram construindo aos poucos outros sentidos... Sentimentos positivos, de superação, união, coragem... afirmação das identidades.
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| Chinelos na entrada da oficina... |
Roda de conversa e ensaio de músicas da comunidade e de autoria de Dimir Viana e Juliana Floriano. Foi reforçada a ideia de se criar um grupo cênico-musical, com músicas autorais, da cultura popular e ligadas a religiosidade.
Dia 15/10 dom
Almoço da equipe com pessoas da comunidade.
No fim de tarde, foi feito um momento reflexivo aberto a comunidade, onde foi falado sobre o Programa BioFlorestas em Cena e o trabalho desenvolvido pela Associação Pano de Roda na região centro oeste mineira. Na ocasião, foi exibido um trecho do filme "Entre-Cenas".
De noite, os participantes da oficina realizaram uma experimentação cênica-musical, com apoio da equipe da Caravana. O campo de futebol ficou magicamente iluminado com a luz das lamparinas e do luar.
Ao final, a equipe da Caravana foi surpreendida com uma homenagem preparada pelos moradores da comunidade. Uma despedida com momentos de alegria, tristeza, gratidão e saudade...
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| Foi pedido para a equipe da Caravana ficar de costas, de olhos fechados |
Versos que a Cidinha (Maria Aparecida Soares Duarte) criou e cantou nesse momento:
“Tem gente da artesania
Que é esperto sem igual
Não sai do pé de mutamba
Só por causa do sinal.
Essa pessoa tem nome
E também está aqui
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| Atrás deles, olha só o que a comunidade preparou: um bolo enorme! |
Tô falando é do Dimir.
Tem também moça bonita
De beleza muito rara
Essa moça é Juliana
Que canta encanta e não para.
Se quer ver o sinal de paz
E calma prá mais de ano
Pensa numa gente fina
É o nosso Cristiano.
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| Quando eles se viraram, que surpresa! |
Só namora pelo wifi
Se cortar o pé de Mutamba
O sinal embora vai.
O povo deste lugar
São inimigos do mal
Um povo bem informado
Por causa deste sinal."
Mais tarde da noite, ainda foi feita uma visita a casa do Sinaval e da Maria, um casal guerreiro. Dimir, artista integrante da Caravana, falou sobre a visita mais ou menos assim:
"Estávamos indo embora após a apresentação quando Cristiano localizou a dona Maria, esposa do violeiro Sinaval, caminhando na estrada escura. Cristiano ofereceu uma carona e ficamos sabendo que ela tinha percorrido 4 km para assistir a apresentação! Chegando na casa dela, o farol do carro iluminou um escorpião perto da porteira. Cristiane, nossa produtora local, matou com o pé e então entramos. Com muito carinho, Maria ofereceu um jantar de agradecimento, junto com seu esposo Sinaval. Fiquei impressionado com a disposição e alegria deste casal. Inclusive com a capacidade de superação do Sinaval, que havia sofrido um acidente de trabalho e mesmo assim estava alegre, tranquilo e disposto."
"Finalizar o trabalho em Lagoa foi um momento mágico, sentimento de dever cumprindo, pois ver os moradores da comunidade ali com os olhos brilhando e ao mesmo tempo não querendo dar tchau e sim até logo, foi muito gratificante. Gratidão a comunidade de Lagoa e gratidão a Caravana de Artesania que deu alegria e esperança, deu vida a este povo bonito". Hellen
Desdobramentos
A cada viagem, a equipe da Caravana vai acumulando experiências e aprendizados, aprofundando sua metodologia de trabalho. A cada programação, acontece o diálogo entre os integrantes da equipe, seus saberes e suas linguagens artísticas. É um tipo de "dramaturgia do encontro" que não acontece só em cena, mas também no diálogo com os produtores locais, participantes da oficina e público.
Ao trabalhar com comunidades, somos chamados para observar nuances que vão além do trabalho artístico. A relação com o meio ambiente, com a família, a educação, a saúde, os valores, a justiça, o turismo... são questões que vão aparecendo nas rodas de conversa, nos processos criativos da oficina e nas visitas a casas de moradores.
Quando chegamos numa comunidade com calma (com a alma), as questões da comunidade são percebidas e sentidas por nós, não só como artistas mas também como seres humanos.
Admiramos a memória de uma pessoa antiga da comunidade (que remonta a primeira metade do século passado!), a capacidade de improvisar versos e também o conhecimento que se tem das plantas. E também observamos como as pessoas lidam com a água e o descarte do lixo... o problema do alcoolismo que atinge diretamente as famílias, as músicas tocadas em festas que incentivam o uso do álcool e a sexualização da mulher... São questões complexas que vão desde a cultura de massa e globalização até a valorização da cultura local e a luta pelos direitos básicos.
Músicas
LOUVAI! LOUVAI!
Dimir Viana
Louvai louvai este rito de beleza
Louvai louvai este rito de beleza
Onde o sol brilha os sonhos
Espantando a tristeza.
Nào pedi pra partir
Parti
Não pedi pra chegar
Cheguei
Não pedi pra entrar
Entrei
Não pedi pra ficar
Fiquei
Eu pedi pra estar
Estou
Eu pedi pra cantar
Eu vou
Eu pedi pra amar
Me dou
Eu pedi a justiça
Eu sou!!!
MANEZINHO
Juliana Floriano
Num adianta Manezinho me dar flor
Num adianta Manezinho me dar flor
Que eu não vou, que eu não vou, que eu não vou,
Que eu não vou, que eu não vou, que eu não vou, que eu não vou
(bis)
Lá no terreiro de João
Lá no terreiro de João
Tem balão, tem balão, tem balão, tem balão
Tem balão, tem balão, tem balão
(bis)
Tem festa, tem noite
Tem lua, tem doce
(bis)
Bom pra cumê até se acabar
Tão me dizendo que a Cidinha vai tocar
Bom pra cumê até se acabar
Tão me dizendo que o Zezinho vai estar lá....
(bis)
Saiba mais
Dicionário da religiosidade popular brasileira - org. Frei Xico
Dramaturgia do Encontro - conceito proposto por Claudio La Camera de Linea Trasversale
Depoimentos
A Caravana de Artesania estar em nossa comunidade, posso dizer com toda certeza que é o maior e melhor acontecimento cultural já presenciado por mim e demais da comunidade e vizinhanças, pois foi acesa em nossos corações a chama da esperança e de muitos resgates de nossa cultura que já estão acontecendo. Isso para mim e para os demais moradores é motivo de muita alegria e honra. Poder contar tantas pessoas especiais a começar pelo nosso povo que marcou presença e os demais que vieram abrilhantar e nos incentivar a enxergar a arte como uma preciosidade em nossas vidas... A minha família inteira está e estará sempre participando. Muito obrigado a todos que contribuíram para que algo tão maravilhoso esteja acontecendo. Queremos essa Caravana muitos anos aqui conosco!!!
Maria Aparecida Soares Duarte (Cidinha), moradora da comunidade.
A Caravana de Artesania estar em nossa comunidade, posso dizer com toda certeza que é o maior e melhor acontecimento cultural já presenciado por mim e demais da comunidade e vizinhanças, pois foi acesa em nossos corações a chama da esperança e de muitos resgates de nossa cultura que já estão acontecendo. Isso para mim e para os demais moradores é motivo de muita alegria e honra. Poder contar tantas pessoas especiais a começar pelo nosso povo que marcou presença e os demais que vieram abrilhantar e nos incentivar a enxergar a arte como uma preciosidade em nossas vidas... A minha família inteira está e estará sempre participando. Muito obrigado a todos que contribuíram para que algo tão maravilhoso esteja acontecendo. Queremos essa Caravana muitos anos aqui conosco!!!
Maria Aparecida Soares Duarte (Cidinha), moradora da comunidade.
"Vale a pena refletir sobre como as manifestações realizada pelo grupo Caravana de Artesania a partir de percepções, emoções e ideias, podem transformar nossas vidas. Afinal, a arte só passa a existir realmente quando estimula ou causa impacto na consciência de um ou mais espectadores. Espectador este que dá um significado único para um artista, para cada encontro, para cada atividade realizada. A arte harmoniza a existência do ser humano. O artista a traduz em uma linguagem que transcende explicações e verbalizações. Problemas, tristezas e dificuldades humanas podem ser minimizados pela arte, pelo encontro.
Movimentos, sons, palavras, olhares, risadas, construções e vibrações representam sentimentos e descobertas de cada momento de nossa vida. Manifestações artísticas sempre fizeram parte da sociedade, retratando-a no tempo e no espaço e tornando a vida mais bela e iluminada.
Gratidão a comunidade de Lagoa e ao grupo Caravana de Artesania por todo conhecimento adquirido e por ter feito parte de momentos únicos e inesquecíveis."
Hellen Domingues, 30 anos, produtora local.
Balanço de outubro de 2017
Movimentos, sons, palavras, olhares, risadas, construções e vibrações representam sentimentos e descobertas de cada momento de nossa vida. Manifestações artísticas sempre fizeram parte da sociedade, retratando-a no tempo e no espaço e tornando a vida mais bela e iluminada.
Gratidão a comunidade de Lagoa e ao grupo Caravana de Artesania por todo conhecimento adquirido e por ter feito parte de momentos únicos e inesquecíveis."
Hellen Domingues, 30 anos, produtora local.
Balanço de outubro de 2017
Projeto Caravana de Artesania - Associação Pano de Roda
Cidade: Carbonita, MG (Vale do Jequitinhonha)
Atividades e abrangência (aprox.):
De 8 a 15/10 Oficina Montagem cênica-musical - 25 participantes
Dia 08/10 Espetáculo "Bem Vindo" no povoado de Lagoa - 55 espectadores
Dia 9/10 Espetáculo "Bem Vindo" no distrito de Abadia - 80 espectadores
Dia 12/10 Intervenção cênica-musical em evento religioso - 68 espectadores
Dia 12/10 Participação cênica-musical em evento infantil - 57 espectadores
Dia 15/10 Exibição do filme Entrecenas e Experimentação cênica - 38 espectadores
De 8 a 15/10 Oficina Montagem cênica-musical - 25 participantes
Dia 08/10 Espetáculo "Bem Vindo" no povoado de Lagoa - 55 espectadores
Dia 9/10 Espetáculo "Bem Vindo" no distrito de Abadia - 80 espectadores
Dia 12/10 Intervenção cênica-musical em evento religioso - 68 espectadores
Dia 12/10 Participação cênica-musical em evento infantil - 57 espectadores
Dia 15/10 Exibição do filme Entrecenas e Experimentação cênica - 38 espectadores
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